Ser professor nunca foi uma tarefa fácil, mas também não tão difícil, ou assustadora, como nos tempos atuais. Essa é a conclusão a que se chega quem ouve os desabafos de professores recém-aprovados no concurso público da rede de ensino de Cuiabá.
Profissionais que estão em sala de aula há menos de 60 dias e que já estão desestimulados ou, pior, apavorados com a experiência do magistério. E olha que não são professores que lecionam para 40 ou mais adolescentes, a fase da formação humana tida como a mais difícil.
Lecionando em uma sala com 27 meninas e meninos de idade que variam entre 6 e 8 anos, T.A.L., 26 anos, conta que sabia que não seria fácil, mas jamais pensou que pudesse ser tão assustador ser professora.
Nas duas primeiras semanas, relata, pelos menos uma vez por dia pensou em desistir. E continua pensando nisso. Entretanto, resolveu estender a docência por mais algum tempo para entender e avaliar sua escolha profissional.
Conforme a inexperiente docente, a rebeldia (palavra escolhida, segundo ela, para não dizer algo mais agressivo) das crianças é surreal, inimaginável. “Nem em sonho poderia supor que alunos nessa idade tivessem um repertório tão grande de palavrões e maneiras de desobediência e enfrentamento”, diz, sem esconder sua perplexidade.
T. reconhece que não sabe lidar com tamanha agressividade, tampouco avaliar se algum dia será capaz. “O professor não pode disciplinar, pôr sentado de castigo, ou mesmo falar em tom mais forte”, conta.
Ela foi alertada por colegas mais antigos a não ser muito dura, sob pena de ser responsabilizada criminalmente. E assim, desde que começou a lecionar volta para casa repensando sua vida profissional.
“Falar com os pais é o mesmo que nada”, reclama. Segundo ela, alguns pais e mães chegaram a dizer que não sabem o que fazer com o filho. “Uma criança de 7, 8 anos dominando a família. Imagina!”, diz. “Se os próprios pais não sabem, nós é que não temos a solução”.
Quem está igual ou até mais assustada é a ex-vendedora A.M.S.L., 28 anos. Ela, que trabalha desde os 17 anos, achou que poderia ter estabilidade financeira e realização profissional sendo professora.
Entretanto, pelas mesmas razões que a colega T., desanimou-se na primeira semana. E faz planos para abandonar o magistério. “Já me inscrevi no Enem deste ano, para lidar com números, cálculos e menos o possível com gente”, enfatiza.
“Não há respeito, nem das crianças e nem dos pais”, critica. Ela pondera que não se pode generalizar, mas reforça que a verdade é que a sociedade está vivendo a era da inversão dos valores morais.
Já C.A.C., 31 anos, que lecionou por dois anos em uma escola privada de classe média-alta, relata que existem diferenças, porém não tão grandes como ela imaginava. “As crianças estão rebeldes nas periferias pobres e nas mansões”, sentencia.
Para ela, o problema está em todos os setores. É social. Está dentro das casas que faltam alimento, amor e sobra violência, assim como nos lares em que os pais se excedem em proteção.
Esses professores, por estarem cumprindo o estágio probatório (que tem duração de três anos), não quiseram se identificar.
Autor: Alecy Alves com Diario de Cuiaba