Pobre Cuiabá que permanecerá mais quatro anos nas trevas da imoralidade na vida pública. Pobre tricentenária cidade de Moreira Cabral que presencia a ausência absoluta de liderança política. Pobre capital mato-grossense que chafurda no sindicalismo e no empreguismo na esfera pública em todos os níveis. Pobre eleitor cuiabano que vai à urna em segundo turno para prefeito ou para votar em quem não presta ou naquele que nada vale.
Essa a síntese da realidade política cuiabana, que certamente será questionada pelos que sugam a prefeitura e por aqueles que querem sugá-la. Tanto uns quanto outros são cúmplices da ausência do município nas áreas onde o mesmo mais se deveria fazer presente.
O poder municipal chamado prefeitura é uma lástima quando visto pelas verdadeiras pocilgas que são os prédios escolares e a estrutura física dos postos de saúde. Lástima também pelo vergonhoso cabide de empregos que são as escolas e postos de saúde.
Esse mesmo poder não dá conta de tratar o esgoto da cidade, que foi terceirizado. Não consegue pavimentar a malha urbana. Não é capaz de promover a plena regularização fundiária. Não tem liderança para promover a industrialização geradora de emprego, mas pratica o crime da gestão temerária empanturrando a prefeitura de aspones e asmones.
Pobre Cuiabá que continuará assim se Emanuel Pinheiro (MDB) se reeleger prefeito. Pobre Cuiabá que não mudará em absolutamente nada (a não ser a troca de nomeados apaniguados dos esquemas políticos) caso o eleito seja Abílio Júnior (Podemos).
Não queiramos afagar o ego cuiabano. É preciso reconhecer que a classe política da capital mato-grossense faliu no passado e falida permanece. Não há líder local capaz de sacudir a cidade. Quem construiu o Verdão foi o governador José Fragelli, de Mato Frosso do Sul. O Ginásio Aecim Tocantins nasceu no governo de Blairo Maggi. Sival Barbosa governando brindou a capital com obras de mobiliade urbana e a Arena Pantanal. Cuiabá não faz seu dever de casa. O ex-prefeito Wilson Santos meteu os pés pelas mãos na obra do Rodoanel, que a sabedoria popular apelidou jocosamente de Roubanel. Técnicos da UFMT nos deram um elefante branco ainda não totalmente parido: o novo Hospital Universitário Júlio Müller, construído sobre um brejo. A Câmara Municipal é um saco sem fundos que consome R$ 59 milhões do contribuinte anualmente, sem produzir absolutamente nada, a não ser a geração de empregos apadrinhados.
Quatro anos perdidos. Isso. Cuiabá está na contramão do desenvolvimento. Enquanto indústrias se espalham por Sorriso, Rondonópolis, Sinop, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e outras cidades, a capital promove a industrialização do emprego político – não confundir com trabalho – para mais de 20 mil servidores na prefeitura. Políticos, sindicatos pelegos e servidores BC (de braços cruzados), sangram a capital da terra do agronegócio. Vergonhoso.
Busque uma lupa, ainda que imaginária e tente encontrar um exemplo – apenas um – de alguma figura na vida pública que mais recentemente teve um gesto de grandeza em defesa de Cuiabá. Não confunda essa grandeza com nomeação de parentes para a prefeitura, Senado, Assembleia, Câmara dos Deputados, Câmara Municipal, Tribunal de Contas do Estado. Tentem identificar alguém que tenha feito algo comparável aos gestos de grandeza de Jacinto Silva, Nêgo Amâncio ou Gaúcho. Ou ainda uma demonstração de amor como fez Zé Paraná. Tentem e não encontrarão.
Em 1949 não havia estrada ligando Poxoréu ao então distrito de Rondonópolis. O garimpeiro mineiro Jacinto Silva radicado naquela cidade que foi Capital dos Diamantes abriu um picadão entre as duas localidades, construiu pontes de madeira e as interligou. Mais tarde o governador Júlio Campos pavimentou aquela estrada que recebeu a nomenclatura de MT-130. Júlio lhe deu o nome de Rodovia Osvaldo Cândido Moreno – sem comentários.
Em 1934 o mineiro Joaquim Amâncio Filho, o Nêgo Amâncio, iniciou o transporte rodoviário de cargas em Mato Grosso, com seus caminhões ligando Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a Guiratinga e localidades de seu entorno. Nenhuma rodovia estadual leva o nome de Nêgo Amâncio.
Henrique Lopes de Lima, o Gaúcho, emprestou seu apelido ao vilarejo que fundou no domingo, 14 de novembro de 1976, à margem da BR-163, em Guarantã do Norte. Por absoluta ausência do Estado naquela região, Mato Grosso perdeu a vila Gaúcho e um área de 22 mil km² para o vizinho Pará. O Estado permanece de costas aos municípios mantendo a absurda visão que sua área territorial se estende entre o Trevo do Lagarto e o Coxipó da Ponte, onde o empreguismo deita e rola.
José Pedro Dias era seu nome civil e de batismo, mas todos o conheciam por ´Zé Paraná. Fundador de Juara num ponto isolado da Amazônia Mato-grossense à margem do rio Arinos, Zé Paraná prometeu que lavaria com cerveja o primeiro ônibus que chegasse àquela localidade para iniciar uma linha que a ligasse a Cuiabá. E o lavou. Na limpeza misturou a bebida com suas lágrimas de felicidade.
Falta muito a Cuiabá. Falta Jacinto Silva. Falta Nêgo Amâncio. Falta Gaúcho. Falta Zé Paraná. Enquanto isso sobra o empreguismo. O segundo turno da eleição para prefeito não mudará essa situação. Perdemos independentemente de quem vença.
Que o tempo, senhor da verdade e da razão, nos dê lideranças. Que a cultura do oportunismo seja substituída por nova ordem social, com as novas gerações trabalhando com dignidade, produzindo e contribuindo com o desenvolvimento. Quanto ao sindicalismo voraz, a própria evolução democrática haverá de sepultá-lo retirando-o da condição vexatória de insepulto movimento pelego.
Emanuel e Abílio são frutos da lentidão do Ministério Público Federal (MPF), que não deu conta de passar a limpo o episódio do Paletó. Se o MPF tivesse atuado com eficácia, o que ora não passa de um vídeo comprometer sobre o Paletó teria se transformado numa ação penal já julgada e com sua sentença sendo executada. Se assim fosse, Abílio não passaria de um zero a mais na esquerda na vergonhosa legislatura da Câmara Municipal que chega ao fim. Emanuel e Abílio são frutos do mesmo pai. Ambos frutas podres.
Lamento a conduta de Gisela Simona (PROS) em apoiar Abílio, quando deveria se posicionar em defea do povo cuiabano. Gisela foi candidata a prefeita e recebeu meu voto declarado em artigo. Não imaginava que ela fosse tão volúvel. Não me arrependo pela decisão que tomei no primeiro turno, pois o vice de Gisela, o Maestro Fabrício de Carvalho (PDT) fez jus à minha confiança, ao se manter neutro na disputa entre o que deve perder e o que não merece vencer.
Pobre Cuiabá das trevas no hoje e da mesma escuridão no amanhã. Enquanto os grupos de Abílio e Emanuel trocam farpas tentando mostrar que um é pior do que o outro, não ouvimos uma proposta sequer por nossa capital. Essa prática imoral do desmonte administrativo continuará por mais quatro anos, independentemente de quem responda por ela. Na curva do tempo, depois de 2024, com a bênção de Deus, surgirá uma liderança para fazer do rescaldo da prefeitura a argamassa para a construção de uma nova era que em nada lembre essa ciranda do oportunismo, da corrupção, do nepotismo cruzado, do empreguismo e do cinismo sob os aplausos dos comensais de poder e dos que esperam chegar ao retornar às tetas da velha mãe prefeitura.
EDUARDO GOMES de ANDRADE é jornalista e editor da Boamidia
Autor: Eduardo Gomes de Andrade