O professor de Educação Física Gibran Freitas, servidor concursado rede pública estadual de ensino há 11 anos, denuncia discriminação sofrida nessa segunda-feira (25), ao fazer a atribuição para lecionar na Escola Militar Tiradentes, antiga Escola Estadual São João Batista, em Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá.
De acordo com o professor, durante o processo de atribuição de aulas, ele e outros educadores faziam a contagem de pontos, pela qual seria definida a unidade de ensino que ele poderia lecionar durante este ano letivo.
Após ser lotado para a escola militar Tiradentes, ouviu de um assessor pedagógico, diante de todos seus colegas que estavam no local, que, para lecionar naquela unidade de ensino, teria que passar por uma 'readequação': raspar a barba, não usar mais o brinco que usa em uma das orelhas e esconder suas tatuagens fazendo uso contínuo de camisas com mangas longas.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação e aguarda um posicionamento sobre o caso. A situação causou indignação no profissional. Ele também conta que não soube como reagir na hora.
"Não estudei e nem prestei concurso para ser policial militar. Sou um educador. É um espaço civil onde, inclusive, se aprende o respeito às pessoas que optam por usar barba, tatuagem, brinco. O respeito pela diversidade. Só que não permitem que a diversidade entre para dentro dessa escola”, relata o professor.
"A escola é um lugar que precisa resguardar a pluralidade e diversidade dos indivíduos, e acima de tudo, lugar onde prevaleça a democracia. Ouvir que eu não poderia ter a minha identidade respeitada, na frente de todos, me deixou totalmente sem reação”, conta o educador.
No vídeo gravado pelo professor, Gibran explica que não houve edital diferenciado para essa escola, que é cívico-militar. Dessa forma, não houve exigências diferentes do edital de todas as outras escolas para as quais ele se candidatou. "Ela simplesmente foi para o quadro geral de atribuição", afirma.
O Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT), emitiu uma nota de repúdio ao ocorrido. "Tal atitude desrespeita a dignidade humana e demonstra a intolerância que acomete a nossa sociedade. Intolerância que está sendo propagada para dentro das nossas unidades escolares por meio da entrega da gestão das nossas escolas públicas para as forças de segurança", diz trecho.
O Sintep também manifestou repúdio à política de militarização de escolas públicas em Mato Grosso intensificada a partir de 2020, com a implementação das escolas cívico-militares.
"Reafirmamos a defesa do sindicato, pela escola pública como espaço universal do exercício democrático de diálogo, pautada por relações horizontais, organização livre dos estudantes, que acolhe e valoriza as marcas éticas, estéticas e identitárias de raça-etnia, cultura, território, gênero e sexualidade", conclui o sindicato.
Autor: AMZ Noticias com G1