Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

No tempo dos sábios... – Por Gonçalo Antunes de Barros Neto




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Ser imortal não é estar associado numa instituição, mas possuir os bens imortais, como as virtudes, destacando-se a sabedoria, o conhecimento, a prudência e a paz de espírito.

Epicuro, que procurava entender o mundo pela via dos sentimentos e da razão, propondo uma existência baseada na felicidade terrena (Carlos Figueiredo, in Discursos Históricos), ensinou que se deve habituar-se a pensar que a morte para nós não é nada, pois o bem e o mal não existem senão como sensações, e a morte é a privação da sensação.

E continua o filósofo grego: não existe nada a temer na vida para quem está convencido de que não há nada a temer em deixar a vida. O mais terrível de todos os males, a morte, não é nada porque, enquanto vivemos, a morte não está presente, e quando a morte está presente nós é que não estamos. E finaliza observando que não é a duração da vida que nos agrada e sim que seja bem vivida.

Vale ressaltar que vida bem vivida não significa vida sem dor ou obstáculos, pois quando não sofremos não temos necessidade de prazer

Contudo, vale ressaltar que vida bem vivida não significa vida sem dor ou obstáculos, pois quando não sofremos não temos necessidade de prazer. E o prazer (o verdadeiro, e não o efêmero e sensual) é atributo da felicidade.

Voltando a imortalidade, mas de determinada existência, Gilberto Gil (resguardadas as polêmicas em que se deu o processo de escolha) a alcançará, talvez e provavelmente, mais pela perenidade de suas canções que pela associação à Academia Brasileira de Letras, apesar da honra para todos em pertencer a seu quadro de membros. Porém, o que nos interessa, aqui, é a imortalidade da alma.

A imortalidade da alma (e não da lembrança, do nome) foi admitida por Platão e Plotino, tendo sido uma das preocupações centrais de Descartes e Leibniz. Aristóteles a admitiu de forma parcial, fazendo distinção entre o intelecto ativo (imortal) e passivo (mortal).

A mais interessante teoria sobre a imortalidade da alma foi de Santo Anselmo, que justamente pelo seu pensamento e produção intelectual, foi imortalizado (agora do nome, da lembrança) na sua existência. Afirmou ele que não estaria de acordo com a suprema bondade, sabedoria e onipotência do Criador reduzir a nada uma criatura por ele criada para amá-lo, enquanto ela o amar (Abbagnano).

Santo Anselmo utiliza-se da lógica, pois, como fazer morrer a algo que foi criado para amar enquanto amar? Impossível.

Também, poderia invocar nesse aspecto a afirmação científica de que o que vem da perfeição, perfeito deve ser. A objeção aqui está no fato de que o Ser criado é distinto do Ser gerado, como o foi Jesus Cristo, que possui os mesmos atributos do Pai. Na criação (o não no que é gerado), portanto, poderá haver imperfeição, ou melhor, dessemelhança com o Criador.

E o que tem a ver Epicuro e imortalidade? A felicidade. A felicidade está na presença dos valores imortais. Quem carrega consigo a virtude é imortal e feliz. Imortal por reter atributos imortais e feliz pelo prazer, sensação de senti-los na existência.

Então, não é qualquer um que chega à imortalidade (de existência, de nome), ainda que assim queiram as convenções sociais e culturais; apesar de que todos somos imortais de alma. Ainda, é forçoso reconhecer que a felicidade é somente para os virtuosos, os sábios.

Um dia se dará mais vida à essas apreensões reflexivas. A humanidade caminha para a verdade, apesar da mentira. Nesse tempo, os melhores serão chamados do último banco para a mesa de honra. É por aí...

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é Juiz e professor de Filosofia da Escola de Magistrados de Mato Grosso


Autor: Gonçalo Antunes de Barros Neto


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