Mato Grosso e suas dimensões continentais permitem que Vila Rica pertença ao Estado mesmo estando a 1276 quilômetros de distância da Capital. Possui pouco mais de vinte mil habitantes, porém em se tratando de bovinos é o 17° município do Brasil.
A cidade que respira pecuária, infelizmente, ficou conhecida também esta semana por produzir a primeira morte de adolescente vítima do jogo da baleia azul. Mais do que uma morte, a cidade está em pânico ao perceber que mais de 10 jovens confessaram ter dado início ao jogo nas redes sociais.
É muito difícil entender o que leva um jovem a dar início a este processo. Talvez o melhor exercício nem seja buscar entender, pois pode ser complicado alcançar. O ideal é justamente não julgar e sim orientar e dar assistência.
A adolescência é uma fase de transição. Não se tem mais os benefícios de ser criança, porém também não se pode acessar ainda todo o leque de opções de um adulto. Alie esta fase a efervescência de hormônios, descoberta de desejos e muita pressão em relação ao futuro que ainda está por vir.
Fase frágil dá espaço a tantas situações. Beber demais, se entregar demais, a própria noção de tempo ainda é distorcida. Os dias demoram a passar.
A fase já é um combo de situações especiais. Para entender como Vila Rica se destaca neste triste ranking eu criei uma teoria bem simples. Cidades do interior não oferecem muitas opções aos jovens. Mas, num mundo moderno, onde tudo se acesse pela internet, é fácil se conectar a qualquer coisa.
O fato é que há hoje no mundo uma legião de gente doente. De um lado, jovens que não suportam as situações a que são expostos nesta fase e do outro gente muito perversa a ponto de incentivar um suicídio. Os pais não se envolvem na rotina dos filhos, desconhecem as situações pelas quais eles passam, pois estão ocupados em produzir e garantir conforto e a manutenção de seu estilo de vida.
Olhando assim, o jogo nada mais é do que o produto que uma sociedade que se auto destrói. E que se não fosse ele esta energia estaria depositada em algum outro fenômeno que resultasse na busca por este fim. Depois de ler este artigo faça uma breve busca na internet para perceber como tem crescido o número de pessoas que dão fim a própria vida.
Mais do que descobrir como impedir que o fenômeno deste jogo se alastre, está na hora de recuperamos o tempo perdido. Investir tempo nas nossas relações, olhar nos olhos de nossos filhos e dividir o máximo de experiências possíveis com eles.
Maria Rita Ferreira Uemura é jornalista e empresária
Autor: Maria Rita Ferreira Uemura