O verão chegou e com ele vêm todos os transtornos na periferia, os noticiários sobre enchentes, ruas intransitáveis e pessoas sem casa que são obrigadas a se instalarem em áreas de risco.
A realidade mostra que a periferia, caracterizada por bairros mais afastados do centro da cidade, e, em geral, mais pobres e com mais problemas sociais, tende a ter atendimento precário pelo poder público. E o pior, em quase todas as áreas. Por que, as enchentes não são solucionadas pelo poder público? Nossos gestores não recebem dessas áreas o IPTU e os impostos para custear obras ao povo. Por que a periferia não possui posto de saúde de qualidade, com o básico: médico e remédio? Por que não temos políticas voltadas para o saneamento básico? Com isso amenizaria muitas doenças virais e desafogaria o Sistema de Saúde Único (SUS), que já é uma calamidade. E inúmeros outros “porquês” poderiam ser feitos, mas me limito a descrever só esses.
Aqueles que já moraram na região central e na periferia percebem essa diferença. O nível de qualidade de vida do centro da cidade é sem comparação com o de bairros distantes. É como se as cidades possuíssem dois mundos: um melhor que o outro. O problema disso é que poucos estão vivendo nesse “mundo” cor de rosa. A maioria da população vive no outro mundo, o de cor cinza e preto, o das periferias que são abandonadas pelo poder público. É doloroso ter que admitir que a imagem da pobreza, do descaso e da vida difícil dos mais pobres parece fazer parte da paisagem das cidades. Como se fosse algo “normal”.
É claro que há razões para que o centro da cidade possua boas condições estruturais, pois é ali que há o maior fluxo diário de pessoas, por causa da concentração do comércio, empresas e organizações públicas. Mas há um abismo de diferenças entre o lado rosa e o lado preto e branco da capital mato-grossense.
Os marginalizados são tratados como pessoas sem identidade, são vistos como bonecos que só tem valor em época de campanha política, que é quando os engravatados proclamam uma cascata de promessas efêmeras. Tenho que concordar com Leonel Brizola: “Estou pensando em criar um vergonhódromo para políticos sem-vergonha, que ao verem a chance de chegar ao poder esquecem os compromissos com o povo”.
A população dos bairros e vilas não pode ser massacrada pela falta de condições de vida adequadas para que a elite central viva no paraíso. É necessário que o poder público tenha um olhar especial sobre as camadas mais pobres da sociedade, sobre as pessoas que residem em bairros, vilas, e distritos distantes. São os mais pobres e excluídos que necessitam mais do Estado.
Embora todos tenham direito aos serviços públicos, independente da classe social, são os mais pobres que dependem destes. Existe ainda uma camada significante da sociedade que esta em vulnerabilidade social.
Com tudo isso a periferia é quem paga o preço, ficando refém dos poderosos. Não podemos aceitar que isso continue num país que se diz democrático. Tratar a burguesia com prioridade não é um cenário novo isso se perdura há séculos.
Além da desigualdade social vinda de cima que já reprime os marginalizados existe também a falta de segurança pública que seja descriminalizada pelas polícias, pois os oficias que deveriam guardar pela cidadania agem diferente ao ver uma pessoa num bairro avermelhado, de calçados e vestimentas simples. Os agentes partem logo para a ignorância, agressão física e moral demonstrando assim que lhe falta instruções de como abordar um cidadão pobre, subestimando a sua identidade.
Para resolver todos esses problemas sejam eles estruturais ou de desigualdade social é necessário urgentemente uma reforma política. Que atenda a saúde, a educação e infra-estrutura da cidade. Todos esses devem ter o mesmo padrão de qualidade que a burguesia goza. Além desses investimentos, o Estado deve prezar pelos valores e respeitar a dignidade dos cidadãos e cidadãs, que são peças primordiais para construção de um país democrático e humano.
E se essa prática não ocorre e a periferia for abandonada pelo poder público, a comunidade, por meio de organização popular, deve intervir no processo político local.
*Lucieder Luz é academico de jornalismo da Universidade de Cuiabá -UNIC
Autor: Lucieder Luz