Recentemente estive com a minha família a passeio em São Luis, no Maranhão. Um Estado hospitaleiro, muito pobre (pior renda per capita entre as unidades da federação, ocupa o 26.º lugar de Índice de Desenvolvimento Humano), mas com inúmeros atrativos para turistas.
O animal raposa é caçador oportunista e apanha sua presa viva. A caminho do Município de Raposa, a fim de conhecer a baía de São Marcos, onde fica localizada a Ilha Curupu, reduto de lazer privado da família Sarney, a guia nos contou uma historinha: “depois de uma grande chuva, Roseana ligou para José Sarney para avisar que Maranhão estava debaixo d´água, e então o Senador perguntou: qual parte, a minha ou a sua? ” Complementou dizendo que qualquer problema de saúde da primeira família é tratado pelo Hospital Sírio Libanês.
Além de Raposa, São José do Ribamar, onde fica a Praia do Araçagy, aquela cuja maré que engoliu 100 carros no primeiro dia do ano, há ainda Alcântara, cidade histórica com várias ruínas que merece ser visitada.
Na virada do ano o Governo do Estado patrocinou show para a população com Alcione, Latino e a dupla César Menotti e Fabiano, além de um grande espetáculo pirotécnico.
Num final de tarde por falta de taxi, tomamos ônibus para voltar ao hotel. Dois dias depois vimos à notícia da morte da menina atingida pelo fogo ateado num coletivo.
Segundo informações o evento foi uma reação aos maus tratos sofridos pelos detentos de Pedrinhas por parte dos agentes estatais. Fato é que desde o dia 23 de Dezembro a imprensa nacional vinha noticiando que mulheres e irmãs de presos estavam sendo estupradas sob as ordens dos líderes das facções criminosas e somente hoje o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher emitiu nota a respeito do assunto.
"Metade dessa população ainda não foi julgada. Segundo o juiz do CNJ, Douglas de Melo Martins, boa parte é réu primário e acusado de crimes mais brandos, que poderiam responder o processo fora do presídio"
Só em 2013 morreram 59 presos em Pedrinhas. Vivem no complexo cerca de 2.500 homens, em um espaço projetado para 1.700. Metade dessa população ainda não foi julgada. Segundo o juiz do CNJ, Douglas de Melo Martins, boa parte é réu primário e acusado de crimes mais brandos, que poderiam responder o processo fora do presídio. Detidos por não pagar pensão ou por porte ilegal de arma estão junto de presos mais perigosos.
No final de 2012 presos das cadeias de Santa Catarina aterrorizaram a grande Florianópolis agindo da mesma forma que os do Maranhão.
Os presídios não podem nos governar. O Estado precisa estar presente nestes espaços oferecendo o mínimo necessário para que as organizações criminosas não assumam o comando desses estabelecimentos.
Maranhão foi o segundo Estado a conferir o maior número de votos a eleição da atual presidente, portanto, intervenção federal é algo fora de cogitação. Torcemos para que fatos como o ocorrido em São Luís não se repitam em outros locais.
*TÂNIA REGINA DE MATOS é defensora pública em Mato Grosso
Autor: Tania Regina de Matos